Multiversal Flaviana

SOBRE AS TRETAS DE QUMRAN

"O catálogo seguia adiante procurando minimizar a importância do cemitério adjacente, com os seus mil e duzentos túmulos, declarando obliquamente que "perto" de Khirbet Qumran havia restos de sepulturas" - sem maiores explicações. Remando contra a crescente corrente da opinião acadêmica, o catálogo descrevia casualmente o Rolo de Cobre dizendo que este continha " um longo rol de tesouros reais ou imaginários - um intrigante enigma até hoje". Ecoando fielmente as opiniões do curador Broshi, o catálogo declarava enganadoramente que as estruturas de Khirbet Qumran não eram "de caráter nem militar, nem privado, mas comunal". O catálogo declarava também, e mais uma vez sem qualquer
fundamento, que 'a destruição do sítio (...) nas mãos das legiões romanas' ocorreu "em 68 E.C." Afirmava ainda que "a opinião acadêmica com respeito ao espaço de tempo de que datam os manuscritos (...)"

GOLB, Norman - Quem Escreveu os Manuscritos do Mar Morto? - Imagem - 1996 - p. 432



"(...) e com respeito às suas origens ancora-se em
evidências históricas, paleográficas e linguísticas e é firmemente corroborada por datações com carbono-14 - uma afirmacão aparentemente bastante inofensiva que se aplica a diversas teorias acerca das origens dos textos de Qumran. Acontece porém, que ela vinha acompanhada de uma outra afirmacão que dizia que grosso do material, particularmente os textos que refletem uma comunidade sectária, são originais ou cópias provenientes do século I A.E.C.", a qual, por sua vez, era seguida de uma discussão sobre "as origens da seita de Qumran". A observacão anterior acerca das "evidências históricas, paleograficas e lingüísticas revelava-se, portanto um artifício retórico cujo objetivo era legitimar a noção já amplamente rejeitada de que apenas as idéias de
um único grupo sectário estivessem refletidas nos escritos de Qumran. Como ja observamos, diversos estudiosos já haviam sido forçados, antes de 1993, a reconhecer a ampla variedade de ideias religiosas presentes nos rolos; e as datações com radiocarbono mostraram claramente que as cópias de as uma boa parte dos chamados textos sectários de Qumran poderiam muito bem ter sido transcritas nas décadas iniciais do século I A.D. Até 1993, também não havia evidência alguma que pudesse sustentar a outra alegação feita no catálogo de que alguns dos textos poderiam ser autógrafos literários. O catálogo dizia também que os relatos de Filon, Josefo e Plínio acerca dos essênios "vêm sendo continuamente confirmados pelas escavações no sítio e pelo estudo dos escritos", mas não oferecia absolutamente qualquer indicação de como isto estava acontecendo. Uma obscuridade semelhante caracterizava também a alegação de que, ao contrário dos saduceus e dos fariseus, "'Os essênios eram um grupo separatista, e parte desse grupo formou uma comunidade asceta e monástica que se retirou para o deserto". "A retirada dos judeus para o deserto", explicava o catálogo, permitiria que eles 'se separassem da congregação de homens perversos' (1QS Manual de Disciplina] 5.2)". Desta forma, o catálogo se aliava àquele grupo de qumranólogos que baseando-se numa interpretação obviamente equivocada da conhecida citação do Deserto extraida de Isaías que o Manual traz defendia ingenuamente que o grupo descrito no Manual tivesse literalmente migrado para o deserto."

GOLB, Norman - Quem Escreveu os Manuscritos do Mar Morto? - Imagem - 1996 - p. 433

1 week ago (edited) | [YT] | 45