Vida de Mochila

Faz sentido viajar para onde você não tem vontade de ir? 

Às vezes, a gente precisa romper certas barreiras invisíveis para descobrir o mundo de um jeito diferente.

Eu tenho muitos amigos nômades. Mas é impressionante como somos diferentes em alguns aspectos. Uma das coisas que me impressiona neles é a capacidade de conseguir escolher e viajar quase que sempre, para lugares que querem ir, e pronto. 

Às vezes, eu não sei se tenho inveja ou se apenas fico me questionando por que não posso ser assim. Minha vida seria um pouco mais simples. Eu já trabalho pela internet e sinto que tenho total capacidade de produzir conteúdos diversos, mesmo morando 6 meses em um lugar que conheço muito bem. MAAAAAAAAAAS, isso não me motiva.

Isso não me brilha o olho. Não é porque tenho problemas com rotina. Pelo contrário. Hoje, tudo o que queria era um pouco disso. Porém, quando o assunto é viajar, parte do meu tesão é chegar a um lugar extremamente aleatório, ou que eu nunca imaginei estar, olhar ao redor e me perguntar: Como eu vim parar aqui?

Você se lembra qual foi a última vez que ligou a TV e assistiu um filme que você não escolheu até o fim? Quando eu era pequeno, houve um momento específico na minha vida. Eu ficava sozinho em frente à TV das 14h até as 18h no trabalho dos meus pais até chegar chegar o fim do expediente e me levaram pra casa.
Essa é a primeira recordação que tenho de desenvolver um hábito.

Independente de qual fosse o filme, eu assistia à Sessão da Tarde até o fim. Eu não escolhia o filme; a programação decidia. Às vezes, era muito ruim; outras, eu dormia de tão chato, mas também havia filmes incríveis,  e eu terminava em lágrimas. 

Em nenhum dos casos eu eu questionava se deveria ou não assistir ao filme. Se o diretor era bom ou ruim, se tinha Oscar ou não. Eu simplesmente me lançava ao acaso e deixava ele me surpreender ou não.

Quando o filme era bom, eu sentia uma sensação maravilhosa, provavelmente muito maior do que se tivesse escolhido, porque fui sem nenhuma expectativa.  Se fosse ruim, eu não sentiria que “perdi tempo, porque já tinha aquele tempo comprometido com o acaso e isso fala por só. 
Quando o assunto é viagens, eu gosto de “projetos”. Risco pontos de partida e de fim em um mapa e jogo o mochilão nas costas.

O que vai acontecer no meio desse trajeto, é uma grande mistura de acasos, recomendações de última hora, cidades aleatórias e pessoas incríveis. Parece loucura, mas é maneira que consegui de planejar para viver o inesperado.
Quando viajei de Goiânia ao México por terra, eu não planejei ter meu mochilão roubado na Patagônia. Não imaginei viver um romance em uma ilha no Chile, como Chiloé, que eu nem sabia que existia. Nunca imaginei estar diante de um vulcão em erupção na Guatemala. Muito menos que todas essas experiências seriam a ponte para conhecer a minha esposa. Essa é a maravilha do acaso.

Em 2025, Lanna e eu estamos nos jogando ao acaso mais uma vez. Estamos fazendo uma viagem de Portugal até a China. Quando decidimos não usar avião, significa que passaremos por dezenas de países sobre os quais sabemos quase nada. 

Como será meu café da manhã no Paquistão? Será que farei amizades na Turquia? Nesse caminho, temos também alguns lugares que, se fosse para a gente escolher, provavelmente não compraríamos uma passagem. Mas essa é a beleza do acaso. Ele pode te pegar de surpresa e te mostrar um jeito de ver a vida simplesmente incrível.

Para acompanha nossa saga até a China, você pode acompanhar websérie Rota da Seda aqui no canal, onde publicamos novos episódios toda Terça (18h) e sábados (12h).

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4 months ago (edited) | [YT] | 948