[Na área de membros, sempre posto um pequeno texto semanal referenciado. Este, por sua vez, será divulgado abertamente aos seguidores do canal, a quem puder se interessar pela nossa área de membros]
Num mundo unipolar, como o desenhado após o fim da URSS, é normal que atores "soberanistas", que visam atingir objetivos estratégicos nacionais soberanos específicos, acabem por se aproximar, mesmo que possuindo ideologias que não conversem entre si. É natural, já que em geopolítica predomina o pragmatismo e o interesse mútuo.
O presidente iraniano Rafsanjani (nome de guerra: "Tubarão", em virtude de sua face lisa), notório membro do Bazaar (mercado em persa, o setor de oposição), falha em se aproximar dos EUA, com quem manteve relações em segredo desde o governo Ronald Reagan [1]. O resultado é a ascensão de Ahmadinejad, nos anos 2000, e um retorno completo à conhecida "solidão estratégica" iraniana, com uma retomada total do programa nuclear. Desde então, Ahmadinejad busca atores facilitadores e amigáveis fora do Oriente Médio e encontra na Venezuela um forte aliado. Deste modo, em 2006, a ONU recomenda que o Irã seja sancionado. Nesta ocasião, apenas 3 países se mostram contrários: Cuba, Venezuela e Síria [2].
Em 2012, Ahmadinejad se encontra com oficiais venezuelanos, firmando uma cooperação formal de inteligência entra a Guarda Revolucionária e o Exército Venezuelano. Segundo denúncias da CIA, o Exército Venezuelano os provê contas bancárias, documentos, armas e meios logísticos para transferência de equipamento. Em 2020, a oposição acusa o Irã, também, de estar auxiliando a Venezuela a interceptar comunicações por via aérea e marítima para auxiliar Nicolas Maduro [3]. No mesmo ano, Teerã entrega sua conhecida tecnologia de drones Shaheed para o regime venezuelano [4], ampliando a soberania e o complexo militar industrial da Venezuela.
Há até mesmo uma fábrica iraniana de drones na Venezuela, conferindo ao vizinho brasileiro uma capacidade militar nativa que o Brasil não possui, mesmo a relativa antiguidade do emprego de drones no campo de batalha [5].
Diga-se de passagem, a inteligência venezuelana na figura da SEBIN é a melhor da América do Sul, bebendo diretamente da DI cubana, a mais competente da América Latina. A quem discorda por razões puramente ideológicas, basta memorar a quantas tentativas de assassinato Fidel Castro sobreviveu. Isto, todavia, é assunto para outro artigo.
A indicação bibliográfica da semana, portanto, é o livro "Axis of Unity", de 2011, que traz enleios, desenvolvimentos e desdobramentos interessantes a respeito das relações diplomáticas, de defesa, segurança e inteligência entre Venezuela e Irã.
- [1] BAKHASH, Shaul. "The Long Career of Ali Akbar Hashemi Rafsanjani." Wilson Center. 2017.
- [2] GOFORTH, Sean. "Axis of Unity: Venezuela, Iran and the Threat to North America". POTOMAC BOOKS. Pág. 50. 2011.
- [3] "Iran and Venezuela: Axis of Anti-Americanism." Intelligence Cooperation, United Against Nuclear Iran. Acesso em: 2025.
- [4] SHAHBAZOV, Fuad. "Iran’s “Game of Drones” in the Middle East." Defense & Security, Gulf International Forum. Acesso em: 2025.
- [5] TELES, Bruno. "Iran's military base in Venezuela now operates sanctioned drones and cargo planes, raising tensions in South America." CPG, Click Petróleo e Gás. 2025.
Vento Leste
[Na área de membros, sempre posto um pequeno texto semanal referenciado. Este, por sua vez, será divulgado abertamente aos seguidores do canal, a quem puder se interessar pela nossa área de membros]
Num mundo unipolar, como o desenhado após o fim da URSS, é normal que atores "soberanistas", que visam atingir objetivos estratégicos nacionais soberanos específicos, acabem por se aproximar, mesmo que possuindo ideologias que não conversem entre si. É natural, já que em geopolítica predomina o pragmatismo e o interesse mútuo.
O presidente iraniano Rafsanjani (nome de guerra: "Tubarão", em virtude de sua face lisa), notório membro do Bazaar (mercado em persa, o setor de oposição), falha em se aproximar dos EUA, com quem manteve relações em segredo desde o governo Ronald Reagan [1]. O resultado é a ascensão de Ahmadinejad, nos anos 2000, e um retorno completo à conhecida "solidão estratégica" iraniana, com uma retomada total do programa nuclear. Desde então, Ahmadinejad busca atores facilitadores e amigáveis fora do Oriente Médio e encontra na Venezuela um forte aliado. Deste modo, em 2006, a ONU recomenda que o Irã seja sancionado. Nesta ocasião, apenas 3 países se mostram contrários: Cuba, Venezuela e Síria [2].
Em 2012, Ahmadinejad se encontra com oficiais venezuelanos, firmando uma cooperação formal de inteligência entra a Guarda Revolucionária e o Exército Venezuelano. Segundo denúncias da CIA, o Exército Venezuelano os provê contas bancárias, documentos, armas e meios logísticos para transferência de equipamento. Em 2020, a oposição acusa o Irã, também, de estar auxiliando a Venezuela a interceptar comunicações por via aérea e marítima para auxiliar Nicolas Maduro [3]. No mesmo ano, Teerã entrega sua conhecida tecnologia de drones Shaheed para o regime venezuelano [4], ampliando a soberania e o complexo militar industrial da Venezuela.
Há até mesmo uma fábrica iraniana de drones na Venezuela, conferindo ao vizinho brasileiro uma capacidade militar nativa que o Brasil não possui, mesmo a relativa antiguidade do emprego de drones no campo de batalha [5].
Diga-se de passagem, a inteligência venezuelana na figura da SEBIN é a melhor da América do Sul, bebendo diretamente da DI cubana, a mais competente da América Latina. A quem discorda por razões puramente ideológicas, basta memorar a quantas tentativas de assassinato Fidel Castro sobreviveu. Isto, todavia, é assunto para outro artigo.
A indicação bibliográfica da semana, portanto, é o livro "Axis of Unity", de 2011, que traz enleios, desenvolvimentos e desdobramentos interessantes a respeito das relações diplomáticas, de defesa, segurança e inteligência entre Venezuela e Irã.
- [1] BAKHASH, Shaul. "The Long Career of Ali Akbar Hashemi Rafsanjani." Wilson Center. 2017.
- [2] GOFORTH, Sean. "Axis of Unity: Venezuela, Iran and the Threat to North America". POTOMAC BOOKS. Pág. 50. 2011.
- [3] "Iran and Venezuela: Axis of Anti-Americanism." Intelligence Cooperation, United Against Nuclear Iran. Acesso em: 2025.
- [4] SHAHBAZOV, Fuad. "Iran’s “Game of Drones” in the Middle East." Defense & Security, Gulf International Forum. Acesso em: 2025.
- [5] TELES, Bruno. "Iran's military base in Venezuela now operates sanctioned drones and cargo planes, raising tensions in South America." CPG, Click Petróleo e Gás. 2025.
5 months ago (edited) | [YT] | 257