Muita gente assiste os vídeos de viagem como escapismo, então só quer ouvir os relatos romantizados para se distrair e sonhar. Já tem muito canal assim, o seu é diferente justamente por trazer o contraponto. Nesse sentido é um conteúdo mais maduro, mais adulto. Não que eu precise dizer, mas siga dessa forma. Vai cultivar o público que te compreende e com o qual terá uma troca mais rica.
2 months ago | 11
Adorei a narrativa! Continue suas viagens, seus vídeos maravilhosos que a gente adora! Um abraço!
2 months ago | 6
Nossas narrativas muitas vezes são como um álbum de fotografias. O objetivo é lembrar os momentos felizes, não os momentos tristes.
2 months ago | 4
Que texto bonito, gostoso de ler. Tenho impressão que as pessoas atualmente já não conseguem mais escrever desse jeito, muito menos se darem o tempo de ler coisas assim.
2 months ago | 4
Perfeito (exceto pelo acidente no pé)! Seu trabalho é prazeroso até para quem só viaja na Internet. Casal simpático e muito coerente ! Parabéns e sucesso!
2 months ago | 2
Conheci o trabalho de vocês quando estava pesquisando sobre o Estreito de Darién. Que documentário perfeito, com tudo que eu precisava saber. Desde então acompanho o canal de vocês. Desejo muita Luz na sua caminhada e da Lanna.
2 months ago (edited) | 3
Queria que você explicasse em um dos próximos vídeos quando mudarem de cidade ou País, como conseguem saber sobre os ônibus, metrô ou trem usar para os deslocamentos. Como compram as passagens (site ou no guichê da rodoviária/estação)? Usam mapas físicos dos destinos? Compram em que lugar?
2 months ago | 4
Richard, continuo por aqui lendo suas experiencias viajando, muito bom !!! Boa noite e boas explorações e descobertas por você e Lana nessa Rota espetacular.s
2 months ago (edited) | 3
Acabei de assistir o vídeo de Mostar finalizando com uma boa conversa com lanna. Abri o YouTube e vi esse texto. É bom compreender a vida de quem se propõe e viajar e mostrar o que vê e sente. Sou motociclista e já viajei ao ushuaia só. Recentemente passei 35 dias pelos antes, desta vez com mais 3 amigos. Sozinho é bom mas acompanhado é melhor. A gente se sente mais confiante e reflete sobre tudo que acontece em cada dia. Abraço aos dois.
2 months ago | 1
Parabéns pelo seu trabalho! Continue assim, melhorando a cada dia.
2 months ago | 0
Vida de Mochila
Em quais circunstâncias a gente gosta de mentir pra si mesmo?
Fechar os olhos é uma boa maneira de sustentar a fantasia.
Em 2015, eu vivia um momento peculiar da minha vida. Com 25 anos nas costas, eu era novo demais para ser gerente de marketing e velho demais para ser assistente. O cargo de analista é aquele em que você trabalha como gerente, mas recebe como assistente, em busca da tão sonhada promoção.
No papel de contrato, tinha hora pra entrar e hora pra sair, mas a realidade de quem quer “subir de vida” é trabalhar dobrado pra tentar se destacar, mesmo que isso vá contra as regras do contrato CLT. Eu tava de cabeça na missão, mas com o passar dos meses, comecei a sofrer com insônia. Vez ou outra, tomava termogênicos no trabalho, pra garantir que o sono não me procurasse na hora da produtividade.
Antes de começar a surtar, um momento de esperança. Minhas férias estavam para chegar. Na impulsividade de tentar colocar todo meu estresse para fora, comprei uma passagem e decidi viajar sozinho para Colômbia. Eu nunca tinha viajado para lá e tinha certeza que o que eu precisava era gastar um pouco da juventude em algo que não fosse trabalho.
A primeira parada foi Bogotá. Por lá, fiquei na casa de um amigo colombiano que conheci em Goiânia e fui muito bem recebido por ele e por todos os seus amigos. Além de me levar para dar bons rolês pela cidade, não me deixaram pagar nenhuma conta, foi inacreditável. Deixei a cidade com saudades, já achando que seria a melhor viagem da vida.
A segunda parada foi Medellín. Nos anos 90, ganhou o apelido de cidade mais perigosa do mundo, graças ao terror causado por Pablo Escobar. Ali, eu não conhecia ninguém. Mas, assim que desci no aeroporto, já fiz amizade com um francês e decidimos dividir um táxi até o centro da cidade.
Nos primeiros dias, como estava sozinho no hostel, saí puxando conversa com alguns australianos que ficavam no bar. Naquela época, viajar sozinho ainda me dava um pouco de ansiedade; eu era muito jovem para desfrutar a solitude. Queria ter amigos para beber e extravasar comigo. Conversa vai, conversa vem, e eles me chamaram para acompanhá-los em um jogo do Atlético Nacional que ia rolar naquela noite, e eu topei na hora.
Antes de ir, eles foram ao banheiro e, quando voltaram, pareciam um pouco mais empolgados do que antes. Eu achei que fosse só álcool, mas aos poucos fui reparando que era energia demais. Antes de entrar no estádio, eles queriam fazer um corre para comprar mais coc4ína, mas ali eu já tava querendo vazar. Os caras insistiram comigo, me encheram a paciência, rolou uma discussão, um clima tenso, até que eu virei de costas, saí andando e me livrei deles.
Os próximos dias foram mais leves. Consegui aproveitar a cidade, fazer bons amigos, e, apesar de ter ter tomado alguns sustos caminhando pelo centrão da cidade, senti que era uma cidade maneira. Mas, se fosse passar mais tempo por ali, eu deveria ter um pouco mais de malícia para aproveitar.
Meu último destino foi Cartagena. Escolhi um hostel baladinho para curtir as festas, e não apenas as praias, mas foi a cidade que eu menos gostei. Sentia um clima pesado; era muito nítido o turismo sexual rolando ao redor da cidade, durante o dia e à noite. O tempo todo havia gente tentando me vender drog4s, de forma insistente, daquelas que incomodam.
Eu decidi fechar os olhos para essas partes mais inconvenientes e fui aproveitar as férias; afinal, eu já tinha pago uma grana e tinha que aproveitar as únicas férias do ano. Nesse meio tempo, conheci gente do mundo inteiro e curti praias bonitas. Mas, quando fui nadar em um rio, pisei em um caramujo e acabei cortando a sola do pé.
Eu, jovem inocente, não tinha seguro viagem. Tentei atendimento no hospital para fazer os pontos, mas ninguém me atendeu. Depois de esperar mais de seis horas, voltei ao hostel e o gerente disse que seu primo, que fazia enfermagem, poderia costurar os pontos. Ele foi até o hostel e fez quatro pontos entre os dedos, na sola do pé, sem anestesia, enquanto uma galera tomava cerveja e fazia piada da situação ao meu lado.
A dor foi horrível, e os próximos dias de viagem foram todos com esse pé lascado. Os pontos abriram um pouco no dia seguinte. O voo para casa foi ainda mais terrível. Meu pé inchou durante a viagem e a vontade que eu tinha era arrancá-lo para parar de sentir aquela dor.
Quando voltei ao trabalho, meus amigos queriam saber como foi o mochilão. Nessa hora, eu não fiz uma análise das partes boas e das partes ruins. Eu só contei pra eles todas as partes boas e simplesmente ignorei todas as partes ruins. Não fazia sentido, na minha cabeça, avaliar os dois lados. Eu paguei muito dinheiro nessa viagem; minhas únicas férias naquele ano estressante. Elas precisavam ser PERFEITAS. Se eu omitisse algumas coisas pra eles, seria mais fácil mentir pra mim mesmo.
Alguns anos depois, eu larguei aquele trabalho e fui viver e trabalhar como produtor de conteúdo de viagem. Agora o meu “papel” era ajudar as pessoas a viajar mais. Seja para desestressar, seja para autoconhecimento, ou até pra expandir o conhecimento geral sobre o mundo. Com esse objetivo, mais uma vez, não fazia sentido fazer um conteúdo falando as partes boas e ruins de cada destino. Principalmente quando sabia que as partes ruins poderiam ter o efeito contrário.
Em 2021, eu consegui realizar uma transição que foi fundamental para o meu trabalho. Meu canal no YouTube, depois de 3 anos subindo videos recebendo quase nada em troca, deu uma engrenada. E, por fim, passei a não depender mais financeiramente do Instagram. Por lá, era muito difícil falar sobre as partes boas e ruins de viajar para qualquer destino. Tudo é muito superficial e raso. Mesmo se usasse todos os caracteres da legenda, seria um lugar quase preto no branco. Ou você é um crítico, ou um romântico. Não há muito espaço para profundidade e senso crítico.
Com o tempo, em vídeos de 30 a 50 minutos, ficou mais fácil ir trazendo contextos mais complexos para os destinos. Falar das partes boas e ruins, com algum contexto, deixando tudo mais completo.
Quero ajudar as pessoas a viajar, mas não quero iludir ninguém. Viajar envolve desprendimento de tempo, de dinheiro e, muitas vezes, de sonhos. Por isso, é importante ver ela como é e não como um filme romântico da sessão da tarde, onde você já tem a certeza do final feliz.
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2 months ago (edited) | [YT] | 346