Ciganos de Capela

Essa noite tive um sonho. Para muitos pode parecer mórbido, mas para mim, trouxe muitas revelações.
Vou trazer um poema que fiz sobre a interpretação desse “sonho” (entre aspas pois foi uma visão assombrosa sobre o porvir).
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Invocação: A Visão da Alma que Enxerga no Silêncio

No limiar da vigília e do sono,
eu caminho por uma praia fria,
onde o mar não toca meus pés,
e o inverno cala as ondas da emoção.

Sou filha do tempo que vê além do tempo,
e hoje, os véus me foram retirados.

Na terra onde cresci, reencontro minha linhagem:
minha mãe, meus irmãos, minhas sobrinhas —
rostos que guardam segredos,
passos que caminham comigo pelas memórias.

Mas então, surge a sombra.

A estrada se curva para dentro da mata,
onde corvos e urubus giram no céu como sentinelas.
E aquilo que todos olham, mas ninguém vê,
revela-se apenas a mim.

Um corpo de bebê — esticado, sem sangue, sem cheiro.
Como se a dor ali fosse muda,
como se a morte já fosse rotina.

Corpos pequenos em caixas,
em formas de bolo, moldados pelo horror.
O açougueiro da alma repete o ritual:
leva o que já foi devorado, e traz outro corpo,
como se fosse apenas mais um gesto do dia.

Mas eu vejo.

Eu sinto.

Mesmo sem o sangue, mesmo sem o odor,
minha alma se choca e se comove.

Pois reconheço ali meus sonhos abortados,
minhas inocências sacrificadas,
as dores que o mundo esconde sob formas bonitas.

E diante disso, eu não grito.
Eu invoco.

Oh Mãe da Terra, recebe de volta essas imagens.
Transforma o que é morto em semente.
Transmuta o horror em sabedoria.
Liberta o que está preso em formas frias.

Corvos do Infinito, levem para o céu o que não me pertence mais.
E tragam de volta a visão limpa, o olhar compassivo,
a capacidade de enxergar sem adoecer.

Pois eu sou aquela que vê.

E hoje, eu escolho devolver.
Não ao esquecimento,
mas à Terra, ao Espírito, à Alquimia.

Que a dor se faça cura.
Que a sombra se torne caminho.
E que minha visão, agora ungida, sirva à luz.

Anne, Cigana das Estrelas

6 months ago | [YT] | 524