Multiversal Flaviana

HIPÓTESE JESUS HISTÓRICO X FLAVIANA

Os Evangelhos não podem ser considerados obras judaicas alinhadas aos Manuscritos do Mar Morto porque suas teologias são opostas. Qumran defende um judaísmo rigoroso, centrado na Lei, no sábado, na pureza ritual e no Templo — criticado apenas por sua administração, jamais rejeitado. Além disso, seus textos são exclusivistas e esperam que Deus restaure Israel destruindo os kittim, isto é, os romanos, inimigos escatológicos destinados ao aniquilamento. Os Evangelhos, ao contrário, relativizam a Lei, anunciam o fim do Templo, condenam Israel, elogiam romanos e incluem gentios — inclusive os próprios romanos — no povo de Deus. Onde Qumran vê Roma como o inimigo final, os Evangelhos a tratam como parte do plano divino.

Dentro desse contraste, a Hipótese Flaviana encontra sua maior evidência nos próprios Evangelhos Sinóticos, que contêm profecias claras sobre a destruição de Jerusalém e do Templo, interpretando a vitória romana de 70 EC como cumprimento da vontade divina. Essa narrativa apresenta um Jesus que legitima, prevê e explica a derrota judaica, exatamente o tipo de figura que favorece a ideologia flaviana — algo posteriormente reforçado pelos Pais da Igreja. Por isso, buscar nos evangelhos um “Jesus histórico” analfabeto, desconhecido e anti-romano é metodologicamente improvável: esse Jesus simplesmente não está no texto. O Jesus que os evangelhos oferecem é o Jesus pós-guerra, semidivino, que anuncia a vitória flaviana e transforma a destruição de Jerusalém em profecia. É esse Jesus, e não outro, que as fontes realmente descrevem.

1 day ago | [YT] | 76