Thales Tkzin :):

Obstinado por ser o maior Ícone da minha geração :):


Thales Tkzin :):

Ouvi “Xtranho”, novo álbum do Matuê, e já deixo claro: não é meu disco favorito dele, mas é impossível ignorar a evolução sonora, estética e estratégica do projeto.

Antes de falar do álbum, é preciso olhar o contexto: o Brasil ainda consome música com rimas previsíveis, referências limitadas e uma cena de trap enfraquecida por festivais sucateados e expectativas irreais. Ao mesmo tempo, o público cobra inovação, mas só aceita referências vindas dos EUA. É um paradoxo.

Matuê parece ter cansado disso. Ex-professor de inglês, saturado das mesmas fórmulas da indústria, ele foi buscar outras fontes — e deixa isso claro quando assume uma estética “que só tem na Alemanha”. Ele sabia que causaria resistência. “Meu Cemitério”, música de trabalho, vem com BPM mais baixo (117), quebrando a expectativa de drops explosivos e euforia de festival. A disrupção começa aí.

Ciente do risco, ele acerta ao trazer feats do underground brasileiro, ampliando vozes fora da bolha da 30PRAUM. Isso aparece até na mixagem: cada faixa soa diferente. Em algumas, os adlibs são discretos; em outras, viram backing vocals. Nada engessado.

Nem tudo me agrada — e tudo bem. Um álbum bom não é aquele em que todas as faixas agradam, mas aquele em que algumas ficam. Os feats femininos me surpreenderam muito, com uma mixagem limpa, pop e levemente suja, exatamente o que o trap polido precisava repensar.

A produção mostra cuidado: drum kits variados, menos cordas, mais eletrônicos, clima sombrio como contraste ao álbum anterior. “Rei Tuê” abre o disco dialogando com os fãs mais antigos, enquanto o resto aponta pra frente.

Matuê não está fazendo algo revolucionário — mas, por enquanto, é o único que ousou mudar a referência. “Xtranho” é o nome perfeito: foi a reação dele, e foi a do público. A estética chama atenção, mas a mensagem está nas frequências. O marketing provoca — a arte acontece no som.

#Matuê #Xtranho #30praum #trapbrasileiro #trapbr #culturahiphop

6 days ago | [YT] | 2

Thales Tkzin :):

Em mais um capítulo da minha saga ouvindo os 1001 álbuns, cheguei ao disco de estreia de Caetano Veloso (1968) — e que viagem.

A abertura com “Tropicália” já te joga num Brasil vivo, cheio de batuques, imagens e contrastes. Caetano costura palavras como quem monta um mosaico do país. A mixagem tem aquele charme de 1968, meio torta, meio linda. E o final sem tônica parece dizer: “calma, ainda tem mais”.

“Clarice” e “No dia em que eu vim-me embora” soam como duas partes da mesma história: partida, silêncio, mala pronta, futuro incerto. Sendo nordestino, me identifiquei pesado — esse sentimento de deixar casa nunca sai da pele.

Quando chega “Alegria, Alegria”, bate a sensação de curiosidade diante do mundo. A frase “Eu vou, porque não?” virou quase um mantra. A música fala sobre caminhar sem mapa, confiando no caminho.

“Onde Andarás?” mostra o outro lado: quando o novo vira hábito e o tédio aparece. Já “Superbacana” é Caetano elétrico, rimando “supersônica” como se fosse óbvio, encarando a cidade grande com os olhos brilhando.

Em “Clara”, a presença da Clara Nunes dá uma camada extra: ela interpreta Clara, e Caetano canta como marinheiro. A mistura entre “Clara” e “águas claras” é linda demais. E a flauta doce? Puro gatilho de infância.

Daí ele mete “Soy Loco Por Ti, América” no álbum de estreia. Apaixonada, dançante, misturando português e espanhol. Uma ode ao continente.

“Eles” fecha discutindo futuro, dinheiro e a mania humana de esperar amanhã pra viver hoje. O baixo aqui é destaque.

O que eu mais senti: Caetano é obsessivo nos detalhes. Ele descreve cheiros, cômodos, cenas inteiras. É experimental sem medo — violinos, pausas, conversas com maestro, e quase nada de guitarra. É como se ele dissesse: o Brasil é estranho, bonito e gigante — e a música também pode ser.

Fechei o disco admirando o cara. E rindo porque ele ainda dá a deixa pros Mutantes no final. Caetano é estrategista desde sempre.

#caetanoveloso #tropicália #tropicalismo #mpb #ditaduranuncamais

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3 weeks ago | [YT] | 1

Thales Tkzin :):

Comecei errado: ouvi Frank Zappa solo antes de ouvir o Mothers of Invention, culpa do meu amigo Fox. Mas depois que ele me mandou um vídeo ao vivo da banda, decidi finalmente ouvir o disco de estreia deles, “Freak Out!” (1966). E logo na primeira faixa já percebi que eu não fazia ideia do que me esperava.

O álbum começa com uma vibe “boy band” que me enganou direitinho. Achei que vinha aí uma tentativa americana de imitar os Beatles… até que o disco virou outra coisa completamente diferente, algo tão progressivo pra época que às vezes nem parece anos 60. E o mais impressionante: eu jurava que seria um álbum só instrumental, então ser surpreendido por vocais logo no começo já desmontou minhas expectativas.

A guitarra é o grande cérebro do disco — rasgada, aguda, identitária, nada polida, com aquela sujeira perfeita que mostra o toque real do instrumentista. E o uso do estéreo é completamente caótico (no melhor sentido). Às vezes a bateria está no centro, às vezes só no lado esquerdo… e tem momentos em que o bumbo está de um lado e o resto do kit no outro. É chocante e genial.

O Mothers cria cenários inteiros: sons de respiração que parecem gemidos, imitações de pássaros, gaitas, metais, teclados psicodélicos… tudo compondo pequenas peças de teatro dentro do fone. Tem hora que parece trilha de gangue de motoqueiro no deserto, hora que parece Doors, hora que vira bagunça controlada.

O disco pula entre músicas “bonitinhas” de dois vocalistas no mesmo microfone e depois volta pra um caos sonoro total. Tem monólogos, ruídos, reverb pesado, gritos, interferências, solos que parecem conversas… e até efeito de voz fininha estilo Alvin e os Esquilos — em 1966.

Algumas músicas aceleram o BPM conforme avançam, outras têm drops (antes disso ter nome), e várias misturam diálogos, sons de animais e atmosferas cinematográficas. As minhas favoritas foram “Trouble Every Day” e “Motherly Love”, as mais radiofônicas e as únicas que me fizeram dançar sem perceber.

No fim, “Freak Out!” me deu a sensação de assistir um show dentro da minha cabeça. Se eles são assim em estúdio, imagina ao vivo. É literalmente como entrar num cinema auditivo — caos, teatro, ironia, invenção e energia pura.

Tô pronto pro próximo.

#themothersofinvention #frankzappa #freakout #rockandroll #blues #rockprogressivo #rockexperimental

https://www.youtube.com/watch?v=-Wq83...

1 month ago | [YT] | 0

Thales Tkzin :):

Em mais um episódio da minha saga ouvindo os 1001 discos para ouvir antes de morrer, cheguei a “Vento de Maio”, da nossa incomparável Elis Regina — e que experiência.

Logo na primeira faixa, um detalhe técnico me chama atenção: um batuque (parece um agogô) só no lado esquerdo da mixagem, junto a uma referência a “Um girassol da cor do seu cabelo”, do Clube da Esquina. A partir daí, o álbum já mostra que vai além do óbvio.

O que mais me encantou é como esse disco revela uma Elis mais contida, madura e experimental, diferente da teatralidade de “O bêbado e o equilibrista”. Em “Tiro ao Álvaro”, a parceria com Adoniran é simplesmente deliciosa — ele mesmo dizia que ela cantava “do jeito que ele gostava”.

Mas o ápice, pra mim, é “O que foi feito deverá”, com Milton Nascimento. A mixagem, o equilíbrio entre os dois, a força do violão e as camadas vocais — tudo é de uma precisão que beira o milagre.

Outros momentos me marcaram profundamente:
🎧 “Rebento” — começa suave e explode em emoção, um verdadeiro estudo sobre interpretação.
🔥 “Calcanhar de Aquiles” — dançante, viva, e com uma Elis tão divertida que dá pra sentir o sorriso na voz.
💫 “Se eu quiser falar com Deus” — encerra o disco com uma espiritualidade desarmante.

“Vento de Maio” me fez entender, de fato, a diferença entre cantora e intérprete. Elis era as duas em grau máximo. Ela não apenas cantava — ela possuía cada música, transformava cada verso em verdade.

Esse álbum é um presente aos ouvidos, um abraço da arte brasileira no tempo.
Obrigado, Elis. 🌬️💙

#VentoDeMaio #ElisRegina #ReviewMusical #1001Albuns #MúsicaBrasileira #MPB #ClubeDaEsquina #MiltonNascimento #AdoniranBarbosa #AnáliseMusical #ResenhaMusical #ArteBrasileira

1 month ago | [YT] | 0

Thales Tkzin :):

Seguindo minha saga dos 1001 discos, dessa vez decidi revisitar um que já tinha ouvido antes, mas do qual não lembrava quase nada — e isso é maravilhoso. Significa que pretendo ouvi-lo muitas vezes ao longo da vida, e ele sempre continuará uma incógnita positiva: “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento & Lô Borges.

Minhas faixas favoritas até agora são “O Sol” e “Um Girassol da Cor do Seu Vestido”. Essa última eu já conhecia pelo filme “Somos Tão Jovens”, mas ouvir a versão original foi como descobrir uma lembrança antiga de mim mesmo.

O disco tem um trabalho de panorama de som incrível — cordas de um lado, batida do outro. Teve um momento em que achei que o fone tinha parado, mas era só o Milton brincando com o espaço. Me senti trollado (e maravilhado).

Há passagens tensas, quando ficam apenas o violão e a voz. Em certos trechos, ele até soa como se cantasse em italiano. A ausência de batida mostra que música é movimento — e sem isso, tudo parece uma trama.

“Me Deixa em Paz”, com Alaíde Costa, é simplesmente genial. Que voz! O jeito que ela canta “...me iludir...” parece um sample feito nos anos 70, antes mesmo do hip-hop existir. Mesmo com batida, a faixa continua densa e emocional.

O álbum é um parque de diversões cultural — experimento, poesia, brasilidade, tudo junto. A guitarra às vezes soa como outro instrumento, e as músicas parecem trilhas de uma novela que a gente já viveu sem perceber.

Milton sobe o tom de repente, e parece que grita por força. Quando canta “O homem é mais sólido que a maré”, lembrei de Hemingway, que dizia que o mar pode ser cruel para criaturas frágeis.

“Um Gosto de Sol” me inspirou a imaginar um boombapzão acelerado — o disco desperta vontade de criar. Em outros momentos, o som ganha ares medievais, com metais e órgão, como uma trilha épica.

No final, o álbum parece se referir a si mesmo, um flashback sonoro, um déjà vu musical.
E, do nada, tudo vira rock progressivo.

#MiltonNascimento #ClubedaEsquina #LôBorges #MPB #BossaNova

2 months ago | [YT] | 1

Thales Tkzin :):

Bebel Gilberto – “Tanto Tempo” (1996)

Um álbum feito com o propósito claro de exportar a cultura brasileira. “Tanto Tempo” não é samba de bar nem trilha de boteco — é uma obra sofisticada, planejada nos mínimos detalhes, com produção e engenharia de som impecáveis. Cada instrumento ocupa um espaço próprio nesse salão sonoro que Bebel e sua equipe constroem dentro da cabeça do ouvinte.

A percussão é delicada: baterias tocadas no aro, pandeirolas e pequenos detalhes distribuídos com precisão no estéreo. O piano, discreto mas encantador, evoca Tom Jobim com leve ousadia. A mixagem é moderna, com guitarras wah-wah e uma separação de canais que mostra cuidado técnico raro na época.

Em “Alguém”, o pop se mistura ao samba, com o pandeiro revelando a raiz brasileira escondida sob uma estética global. Os harmônicos do violão e os sintetizadores constroem uma atmosfera contemporânea — o disco poderia ter sido lançado ontem.

O repertório impressiona: Vinicius, Cazuza, Gilberto Gil, Dinho Ouro Preto. A sonoridade é de elite, sem perder a simplicidade das melodias. Bebel costura brasilidade e modernidade com elegância, e até sons que lembram conchas e vento nos transportam à beira-mar.

O baixo brilha em “Bananeira”, junto a metais e flautas que dão vida ao groove. É um Brasil filtrado e refinado, o que explica o reconhecimento maior no exterior.

Em “Samba e Amor”, só voz e violão — uma pausa intimista e necessária. Já em “So Nice (Summer Samba)”, o arranjo é puro requinte: bongôs, baixo sutil, flauta e reverb que preenche o ar. “Mais Feliz” surpreende com o uso de um copofone, som que parece de outro mundo.

“Tanto Tempo” é um disco de atmosfera e intenção. Sofisticado, atemporal e lindamente brasileiro — um retrato de um país que aprendeu a ser ouvido lá fora sem perder a própria alma.

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#bebelgilberto #bossanova #mpb #cazuza

2 months ago | [YT] | 0

Thales Tkzin :):

Em mais um episódio da minha lista de escutar os 1001 álbuns que todos devem ouvir antes de morrer, decidi revisitar um disco que já conhecia de longe — tinha ouvido uma ou outra faixa, mas na época, o contexto não ajudou. Preciso dizer: ouvir uma música desse álbum na academia definitivamente não foi uma boa escolha. Só que dessa vez, tudo parecia diferente.
Não sei se fui eu quem mudou, ou se meu estado de espírito estava precisando de obras mais calmas, mas foi uma excelente decisão me permitir ouvir novamente — e completo dessa vez.

Confesso que essa semana começou difícil. No domingo, resolvi beber com uns amigos, passei um pouco do ponto, dei perda total e acordei derrubado na segunda-feira. A sensação era de que aquela seria a pior semana da minha vida. Fiz menos do que o de costume, e a bola de neve foi crescendo até que percebi que talvez eu estivesse me cobrando demais. No fim das contas, eu não sou um robô que faz tudo freneticamente.
Hoje, veio um pensamento: “Vou deixar a música me levar.”
E se soubesse que essa era a melhor opção, teria começado a semana assim desde segunda-feira. É o que vou fazer religiosamente a partir de agora: começar cada semana ouvindo um álbum completo.

O álbum da vez é Getz/Gilberto, fruto da parceria entre o nosso João Gilberto e o saxofonista norte-americano Stan Getz. Ele começa com “Garota de Ipanema”, numa versão diferente da original. Não há o backing vocal feminino coral, o que tira um pouco da alegria que a música tinha — ainda que a Bossa Nova sempre tenha um “quê” de contenção emocional.
Essa versão traz um complemento inédito em inglês, e diferente da de Sinatra, ela combina perfeitamente com a voz sutil de Astrud Gilberto (esposa de João na época). Eu amei a voz dela. Não é potente como Elis ou Ella, mas soa como se tivesse nascido para essa música. Sem ela, a faixa parece incompleta. Não à toa, essa versão venceu o Grammy de Música do Ano em 1965 — tornando Astrud a primeira mulher a conquistar o prêmio.

O álbum é muito bem mixado para a época. Ainda assim, dá pra perceber o que seria aprimorado numa remasterização atual — especialmente o ruído do saxofone, que me pegou de surpresa. Não esperava o instrumento em mono e centralizado, mas conforme o álbum avança, o sax de Getz ganha vida, fala, chora, desabafa. Depois do susto, ele se torna indispensável.
O violão 2x2 da Bossa é previsível e sutil, perfeito para estudar ou acalmar o coração. Mas quando o sax entra com escalas imprevisíveis, o coração precisa confiar no músico.

Há também um piano/teclado que, por vezes, assume o papel do violão, como se teclas e cordas dançassem juntas. E quando o piano se solta, o faz com classe e timidez — minimalista e precioso. Aparece principalmente no lado direito da mixagem, e aquele estilo de tocar denuncia: é Tom Jobim. Não precisei olhar os créditos. O jeito dele é inconfundível e memorável.
A voz de João Gilberto é contida e sucinta, mas quando aparece, tem peso. O mesmo vale para o sax. A presença e a ausência de ambos são sentidas — e isso é pra poucos.

O baixo, tocado por Sebastião Neto, também tem seus momentos de protagonismo. O mérito, nesse caso, vai ao engenheiro de som, pela sensibilidade. O baixo não tem groove e nem precisa: é simples, cordial, e parece ser tocado de olhos fechados, com a alma em outro lugar.

E é com essa obra que meus ouvidos e meu coração parecem ter encontrado paz. Getz/Gilberto me trouxe conforto e sentido.
Minha faixa favorita foi Corcovado, e já consigo imaginá-la num sample.
Eu amo ser brasileiro.
Esse disco parece ter sido feito pra mim — e é incrível como a música ainda exerce poder sobre almas de todas as idades, mesmo 60 anos depois.

#joãogilberto #stangetz #bossanova #mpb #jazz

2 months ago | [YT] | 1

Thales Tkzin :):

Em mais um capítulo da minha saga de ouvir os 1001 discos que preciso ouvir antes de morrer, resolvi escolher um nome familiar: Radiohead. O álbum da vez foi Kid A, e aqui estão minhas impressões.

De primeira, a sensação é de estar diante de uma cena eletrônica experimental: teclados e sintetizadores focados em criar ambiência, enquanto o vocal aparece recortado, como se a máquina tivesse bugado. Cada lado do fone entrega uma falha diferente. Não há percussão convencional no início, o que reforça essa estranheza.

Na faixa-título Kid A, a impressão é de uma abdução sonora, como se dados estivessem sendo processados. A voz de Thom Yorke não aparece em potência, mas em murmúrios e gemidos, distorcidos como se viessem de um rádio com interferência. Isso dá ainda mais brilho ao baixo, que entra pela primeira vez. O teclado/sintetizador, por sua vez, soa como um nascer do sol. É uma faixa que apresenta os instrumentos em camadas, e a bateria também carrega esse aspecto “radiofônico”.

Em The National Anthem, a bateria surge pela primeira vez de forma mais convencional, junto ao baixo que novamente rouba a cena. O destaque, no entanto, é o caos sonoro, com metais que lembram o tráfego caótico de uma avenida — algo até próximo da ideia de “Construção” do Chico Buarque. É como se a banda tivesse deixado de lado qualquer preocupação com convenções de mercado.

A mais “normal” até aqui é How to Disappear Completely. Violão e voz em protagonismo, com Thom finalmente sem tantos efeitos até o final. Os sintetizadores simulam violinos, e a guitarra aparece discretamente, com uma distorção suave, quase servindo de apoio. Quando a voz ecoa “I’m not here”, desaparece em meio ao reverb, reforçando o clima etéreo.

Esse disco inteiro parece viver em tensão constante: esperamos uma virada de bateria que não vem, uma explosão que nunca chega. E, ainda assim, conseguimos imaginar uma multidão acompanhando as vocalizações harmônicas em um show. As guitarras são discretas, mas intensas, reforçando os outros instrumentos. Um bom exemplo é In Limbo, onde o dedilhado dá profundidade enquanto as vocalizações funcionam como suporte.

Em Idioteque, o clima eletrônico volta com força total: sem instrumentos orgânicos, apenas batidas picotadas e o vocal usado quase como um sample. É puro underground eletrônico, lembrando até scratches de DJs de hip-hop.

Minha favorita foi Morning Bell: progressão clara, refrão reconhecível, bateria em contratempo e falsetes de Thom que soam como uma confissão. Aqui, o teclado mais grave dialoga bem com baixo e bateria simples. Dá para imaginar essa faixa como uma música de trabalho.

O álbum se encerra com Motion Picture Soundtrack. Sem bateria, mas com a presença fantasmagórica de uma harpa contrastando com timbres que lembram um teremim — como se fossem dois lados de um mesmo sonho.

No geral, Kid A soa como um convite a mergulhar em ondas alfa, ruído branco, ou até uma sessão de downtempo. Um álbum que desconstrói expectativas e prova como o Radiohead estava disposto a reinventar não só seu som, mas a forma de se fazer música no fim dos anos 90.

#radiohead #rockexperimental #postrock #rockalternativo #experimentalrock

2 months ago | [YT] | 1

Thales Tkzin :):

Em mais um capítulo da minha saga de ouvir os 1001 discos para ouvir antes de morrer, mergulhei em The Blueprint, clássico absoluto do Jay-Z.

Minha curiosidade veio depois de assistir ao documentário do Kanye West, que teve participação fundamental na produção desse álbum. Saber disso já elevou minhas expectativas — e ainda assim fui surpreendido.

O que mais me chamou atenção foi como Jay-Z usa os samples não só como base, mas como se fossem instrumentos vivos, conversando com a batida, com os metais, com o piano e até com os sintetizadores. É como se ele enxergasse vozes e melodias antigas como matéria-prima para criar algo novo, grandioso e, ao mesmo tempo, acessível.

A cada faixa, a produção entrega detalhes inteligentes: viradas inesperadas de bateria, baixos que sustentam o groove sem roubar a cena, guitarras que transitam entre distorções de rock e efeitos típicos do reggae, sempre no ponto certo. Até um violino aparece no final, fechando o disco com classe.

Participações especiais também reforçam essa atmosfera: Eminem em "Renegade" mostra um lado mais melódico, enquanto Q-Tip, Slick Rick e Biz Markie emprestam suas vozes em outros momentos. Dá para sentir o respeito mútuo entre todos os envolvidos.

O álbum não se apoia em exageros ou truques fáceis. Jay-Z prefere a elegância da harmonia bem construída. Nada soa gratuito: até quando ele experimenta, como em Girls, Girls, Girls ou em Breathe Easy, a sensação é de propósito e de cuidado.

No fim, a impressão que fica é de carinho e precisão. The Blueprint é mais do que um marco do rap: é um exercício de equilíbrio entre simplicidade e sofisticação, entre ego e legado.

Mais um disco riscado da lista, e um que certamente merece estar entre os 1001 que todo mundo precisa ouvir antes de morrer.

#jayz #theblueprint #eastcoasthiphop #chipmunksoul #culturahiphop

3 months ago | [YT] | 0

Thales Tkzin :):

Em mais um episódio da minha saga de ouvir os 1001 discos para ouvir antes de morrer, decidi mergulhar no álbum de estreia do Oasis - "Definitely Maybe". Considerado um marco do britpop dos anos 90, o disco traz aquela energia juvenil que mistura sonho, ingenuidade e uma confiança quase inconsciente de quem ainda está descobrindo até onde pode chegar.

A voz do Noel soa claramente mais jovem. E, com todo respeito — sou muito fã dele —, sua presença no disco só não parece amadora graças ao apoio da guitarra do seu irmão, Liam. É interessante como o Oasis não força a barra com distorções exageradas, mesmo sendo uma banda dos anos 90, época em que a sujeira do grunge ainda ecoava forte. O baixo garante que a guitarra não soe seca ou estridente, e apesar de simples, sua sincronia é tão nítida que dá a impressão de que baixo e guitarra são tocados pela mesma pessoa.

Uma característica marcante dos anos 90 que aparece aqui é a despreocupação com o virtuosismo. Mesmo sendo um guitarrista talentoso, Noel prefere manter a música simples, sem encher as faixas de melodias apenas por capricho. A mixagem da voz é sutil, brincando com efeitos de chorus que dão um ar cristalino, moderno e radiofônico — claramente uma herança do Nevermind do Nirvana, mas com o toque próprio da banda. O compressor de voz também tem papel essencial nessa sonoridade.

Os falsetes de Noel funcionam justamente porque a produção não tenta transformá-lo na estrela absoluta. Sua voz caminha lado a lado com a guitarra, como se ambas se apoiassem sem competir. Ele alonga as vocais para se encaixar aos instrumentos, criando uma verdadeira dança de frequências. Dá a impressão de duas guitarras em sintonia perfeita, mas não divididas em solo e harmonia — é uma sinergia natural, como se fossem uma só.

Liam aproveita para experimentar efeitos na guitarra, arranhando as cordas com a palheta em alguns começos de faixa, quase como se criasse pequenos interlúdios. Também há backing vocals que supostamente são dele, bem pontuais, reforçando os falsetes do Noel. A segunda guitarra com distorção discreta, junto ao baixo, dá aquele peso extra que move o álbum.

A bateria, por sua vez, é simples e jovem, sem exageros. O baterista parece ter consciência da importância de dosar: em momentos, deixa apenas os pratos acompanhando o baixo, reforçando a característica radiofônica do som. Nem todos sabem fazer músicas que agradam multidões sem soar artificiais, mas o Oasis consegue — e isso é um dom.

As vocalizações, em certos momentos, funcionam quase como uma terceira guitarra. A bateria também tem seus destaques, abrindo ou encerrando músicas, mostrando a dinâmica do álbum. As melodias vocais são feitas para estádios inteiros cantarem junto, mesmo sem conhecer a letra — é contagiante.

O disco transmite uma ingenuidade bonita. Logo na primeira faixa, quando Noel canta sobre ser um astro do rock, sentimos o sonho dos integrantes pulsando em cada acorde. A porrada mais forte vem em “Bring It On Down”, com bateria potente que lembra o punk, mas em andamento mais lento — algo que até remete à “Conexão Amazônica” da Legião Urbana. Aqui Noel canta menos, mas sua voz soa quase como uma extensão da guitarra de Liam, fundindo-se num só instrumento.

Em “Digsy’s Dinner”, um teclado aparece discretamente por alguns segundos antes de sumir — um detalhe que mostra a abertura da banda para experimentação e evita a previsibilidade. Já no encerramento, “Married With Children” traz o violão em destaque, dando um desfecho mais tranquilo ao álbum.

Definitely Maybe não é apenas a estreia do Oasis. É um registro sincero de juventude, sonhos e energia bruta — o início de uma das maiores bandas britânicas dos anos 90.

https://www.youtube.com/watch?v=a1nYG...

#oasis #LiamGallagher #NoelGallagher #britpop #álbum

3 months ago | [YT] | 2